domingo, 19 de janeiro de 2014

Correlação verbal em questão de concurso


          Em prova elaborada pela Esaf  para Auditor da Receita Federal, a banca pede que o aluno leia o seguinte fragmento do filósofo Gerd Bornheim: "O advento da moderna indústria tecnológica fez com que o contexto em que passa a dispor-se a máquina mudasse completamente de configuração".

         Em seguida pergunta se se mantém a coerência da argumentação ao substituir-se "fez" por "faz" – desde que também se substitua "mudasse" por "mude".

         A resposta é que se mantém, sim. No âmbito da flexão verbal, o perfeito do indicativo se correlaciona com o imperfeito do subjuntivo (fez – mudasse). E o presente do indicativo, com o presente do subjuntivo (faz – mude). Não posso escrever, por exemplo: "A perspectiva do prêmio faz com que ele estudasse"; o correto é "estude". (Mais questões comentadas em http://www.chicoviana.com/concursos.php.)

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

Tendência do português a tonificar os pronomes oblíquos

        Michelle Colombo, de Limeira (SP), envia-nos questão “polêmica” de concurso para a prefeitura de São Paulo. A banca pede que o candidato assinale o comentário correto para justificar a próclise em frases do tipo “Me dê um copo de vinho!”. Lembra que muitos gramáticos contestam esse tipo de construção com base na regra de que não se inicia frase com pronome oblíquo átono.

        A candidata marcou a alternativa “a”, na qual se afirma que “os gramáticos estão corretos já que, de fato, os pronomes átonos só podem ser empregados encliticamente”. A banca considerou certa a alternativa “d”, segundo a qual “a regra indicada está perfeitamente correta, mas não se aplica ao pronome da frase, que é tônico na pronúncia brasileira, e não átono”.

       A alternativa que a candidata marcou está errada, pois os pronomes oblíquos podem ser usados tanto em próclise, quanto em ênclise (“Dê-me um copo de vinho”) ou mesmo em mesóclise (quase fora de uso). Só que a ênclise é comum no português de Portugal. Entre nós, devido à tendência a tonificar os pronomes, a preferência é pela próclise. Está, pois, correto o gabarito.

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

A regência do verbo "preceder"

           E-mail de Alex M.: “Professor, várias questões de residência médica usam o verbo ‘preceder’ sem nenhuma preposição depois. Exemplo: ‘Maria precede João, ou o crescimento de Maria precede o de João’. No meu entender Maria está vindo primeiro, ou crescendo primeiro. Mas nas vezes em que respondi às questões com esse entendimento, errei. Por quê?”

         Caro Alex, o verbo “preceder” é transitivo direto e significa “vir antes” quando dá ideia de posição (temporal ou espacial): Por exemplo: “O artigo precede o substantivo”; “O inverno precede a primavera”.

          No sentido de “ter prioridade”, “ter precedência”, “superar”, esse verbo é transitivo indireto, ou seja, rege complemento preposicionado. Assim, o correto é “Maria precede a João nos exames de anatomia”. 

domingo, 16 de junho de 2013

Flexão do verbo "ter" com o sentido de "existir"

       E-mail de Jacqueline Santos: “Na frase ‘Tem coisas no texto que eu pratico constantemente’, o verbo TER tem acento ou não, ou seja, vai para o plural?”.
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        Nessa frase o verbo “ter” não leva acento, pois está na terceira pessoa do singular. Equivale ao verbo “haver” com o sentido de “existir” (Há coisas...). Com esse sentido ele é impessoal, ou seja, aparece numa oração sem sujeito (“coisas” é objeto direto). Consequentemente, não tem com quem concordar.

terça-feira, 28 de maio de 2013

Quando usar "Ter que" ou "Ter de"


          E-mail de Graça Viana: “Professor, quando usar ‘tenho de’ ou ‘tenho que’. Exemplo:  Tenho de preparar o jantar, ou   Tenho que preparar o jantar?”
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            É possível usar qualquer das duas formas. Nesse caso o “que” é preposição, ou seja, equivale mesmo a “de”. Ligado ao verbo “ter”, adquire o valor de um auxiliar modal, que acrescenta ao infinitivo a ideia de obrigatoriedade.

domingo, 14 de abril de 2013

Maiúsculas nas siglas

          Teófilo Júnior quer saber se é obrigatório o uso de inicial maiúscula em cada palavra quando uma sigla é escrita por extenso
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         Caro Teófilo, o Acordo não alterou nada quanto a isso, de modo que se devem escrever com maiúsculas os nomes das palavras que fazem parte de uma sigla ou acrônimo. Exemplos: Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos, Organização das Nações Unidas etc.

Plural das locuções

        E-mail de Adauto F.: “Professor, existe alguma regra que oriente a pluralização do segundo elemento em ‘elevador de serviço’ ou ‘loja de roupa’”?
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      Caro Adauto, a regra geral é que, nas locuções, se pluralize apenas o primeiro elemento: estradas de ferro, elevadores de serviço etc. Quando o segundo elemento tem autonomia semântica e não serve de mera qualificação para o primeiro, fica no plural: “lojas de roupas”, “pastores de almas” etc.