sábado, 11 de novembro de 2023

 


Do amigo, professor e escritor João Batista B. de Brito recebi o texto abaixo, a que respondo em seguida:

 

Oi, Chico, bom dia.

Vez ou outra me ocorrem questões de gramática que me incomodam, e então, fico com vontade de partilhar com você, que é o nosso guardião competente e incansável da língua culta.

Uma delas é a seguinte. De uns tempos pra cá, venho notando como as pessoas andam engolindo as preposições em certa construção frasal, isto de uma forma quase sistemática.

Veja bem. Todo mundo diz, por exemplo, “gosto do filme”, mas, ao mudar a construção usando o relativo “que”, fica assim: “o filme que gosto”. Idem para: “O caso que me referi”, “A pessoa que falei”, etc, etc, etc... E esse uso não vem ocorrendo só entre pessoas simples, mas entre gente chique (até locutores e repórteres já ouvi falando assim). E o fato ocorre tanto em nível oral, como na escrita, principalmente na escrita eletrônica.

Na verdade, o desaparecimento da preposição nesse tipo de estrutura sintática é tão genérico que fico me indagando se não seria o caso de se pensar em “normalizar” esse uso, talvez – quem sabe? – aceitando-o na língua culta como alternativo.

Gostaria de ter uma opinião sua sobre a questão. Se pudesse ser na sua página do Facebook, melhor ainda, pois o problema pode interessar a outras pessoas, inclusive a seus alunos. Abraço grande de seu amigo e admirador.

****

Alô, João! Grato pelo “guardião competente e incansável da língua culta”. Digamos que me esforço para fazer a garotada seguir a língua-padrão rsrs. 

Por sinal, as construções que você aponta constituem um tipo de infração a ela. A cartilha do Enem, por exemplo, é clara quanto a isso; os pronomes relativos devem, se for o caso, vir antecedidos das preposições que marcam a regência verbal.

Não posso dizer, por exemplo, “Os livros que gosto são os de aventura”, pois o verbo “gostar” é transitivo indireto. 

Mas o fato é que, por desconhecimento da regência ou pela lei do menor esforço, tem havido muito desrespeito a essa recomendação — inclusive no nível culto. 

Possivelmente com o tempo (já que língua é uso), a preposição deixará de aparecer. Enquanto isso não ocorre, ela deve constar caso se exija o emprego do registro formal. 

No discurso coloquial, informal, a liberdade é maior. Não é raro em textos publicitários, que tendem a privilegiar o tom coloquial, a gente ler frases como: “A solução que você precisa”. Convenhamos em que ela soa melhor e tem mais apelo do que o claudicante “de que você precisa”. 

Grande abraço! A admiração é recíproca.