sexta-feira, 8 de maio de 2020

A diferença entre "respirador" e "respiradouro"

                                 
    “Professor, tenho visto algumas pessoas usarem ‘respiradouros’ em vez de ‘respiradores’. Está correto?”
                                                         ****

Os dois vocábulos existem, mas não se equivalem. Dá-se o nome de “respiradores” aos aparelhos que facilitam a ventilação pulmonar em pacientes com os pulmões amplamente comprometidos por inflamação ou infecção. Esses equipamentos são vitais, conforme temos acompanhado pela mídia, na atual pandemia provocada pelo coronavírus.
Já “respiradouros” são os orifícios que permitem a entrada ou saída do ar em recintos ou aparelhos fechados. Eles devem aparecer em ambientes onde há botijões de gás ou dispositivos em que o gás entra em combustão e libera monóxido de carbono (como os chuveiros elétricos).
        É comum se usar “respiradouro” metaforicamente, dando-lhe o sentido de algo ou alguém que constitui um alívio em situações opressivas.   

sexta-feira, 27 de março de 2020

“Está correto dizer que alguém testou positivo para o coronavírus?”


Tenho lido críticas a essa construção com base em que o indivíduo que se submete à prova para a detecção do vírus “não testa”, “é testado”. O correto seria então dizer algo como “o teste a que o indivíduo se submeteu deu positivo”.  
        Os que alegam isso esquecem que um dos sinônimos de “testar” é “atestar”, ou seja, comprovar através de testemunho ou de procedimento técnico. Em “testar positivo” o que se afirma, por aférese (supressão da sílaba inicial) é “(a)testar positivo”.
       Caso essa explicação não convença (a mim satisfaz), lembro que são comuns em Português construções ativas com sentido passivo. Esse tipo de mudança tem um nome, enálage, que é a alteração de categoria gramatical (modo, tempo, flexão etc.).
         Por enálage é possível, como observa Zélio dos Santos Jota em seu Dicionário de Linguística, “haver passividade sem que haja voz passiva, e vice-versa”. “Testar” com o sentido de “ser testado” não foge à índole da língua.
        Diante disso, não há por que considerar erro a afirmação de que alguém “testou positivo” para o coronavírus.

quarta-feira, 21 de agosto de 2019

Sobre os verbos terminados em "guar", "quar", "guir" e "quir"


Bom dia, caro professor, já agradecendo sua enorme disponibilidade para dirimir dúvidas sobre a língua portuguesa, estou aqui com um impasse. Sabemos que há variação na pronúncia dos verbos terminados em GUAR, QUAR e QUIR, como aguar, obliquar, delinquir. sabemos ainda que se forem pronunciados com "A" ou "I" tônicos, essas formas devem ser acentuadas, como em ENXÁGUO, DELÍNQUO. Mas se forem pronunciados com "U" tônico, deixam de ser acentuados, como em "enxagUo", "delinqUa". Pois bem, minha dúvida é a seguinte: No caso de se pronunciar com "U" tônico, como são consideradas oxítonas, e sabendo-se que o "A" sempre será vogal e que não existe mais de uma vogal na mesma sílaba, como se resolve esse impasse, pois o "U" é tônico? Nos dois casos elas são paroxítonas ou apenas quando são ecentuadas?

Raimundo Gomes
////
         Alô, Raimundo!  

      As formas verbais a que você se refere apresentam, de fato, mais de uma pronúncia e mais de uma grafia. É importante ressaltar que isso ocorre apenas nas chamadas formas rizotônicas do presente do indicativo e do subjuntivo (uma forma rizotônica é aquela em que a sílaba tônica está contida no radical, ou seja, na parte do vocábulo que contém o sentido).
      Assim, pode-se pronunciar (e escrever) “enxaguo” ou “enxáguo”, “delinquo” ou delínquo. Em “enxaguo” e “delinquo”, o “u” é vogal tônica na penúltima sílaba (em-xa-gu-o, de-lin-qu-o); antes da Reforma esse “u” recebia um acento agudo. 
     Já em “enxáguo” e “delínquo”, o “u” aparece como semivogal de um ditongo crescente (en-xá-guo, de-lín-quo). Nesse caso, para que se mantenha o ditongo e as vogais “u” e “o” não formem hiato, marca-se com acento agudo a penúltima sílaba.
      Não entendi bem sua dúvida. Você afirma que, no caso de o “u” ser  tônico, o vocábulo passa a oxítono. Não é verdade; ele se mantém como um paroxítono. Depois você sugere que a letra “a” (obviamente em “enxaguo”) faria parte de um ditongo. O “a” nada tem a ver com o grupamento vocálico final, que como se viu constitui um hiato. 
      Não sei se deu para esclarecer. Caso suas dúvidas persistam, não hesite em escrever novamente.

quinta-feira, 4 de julho de 2019

A posição do sujeito na ordem direta


Professores como colocar a oração na ordem direta sem saber o sujeito?ou tipo quando agora oração é muito longa qual forma eficaz de achar o sujeito.

Michael Alves

****

Alô, Michael!

         E impossível colocar uma oração na ordem direta sem conhecer o sujeito.   O motivo é simples: a ordem direta é aquela em que o sujeito encabeça o enunciado oracional. Consiste, grosso modo, em você enfileirar os termos na sequência “sujeito + verbo + mais complemento (objeto) + mais adjunto adverbial”.
         Isso leva à segunda parte da sua questão: como identificar o sujeito. Uma dica é fazer as perguntas “quem é que” ou o “que é que”. Vou dar um exemplo com um tipo de frase em que geralmente há dificuldade de proceder a essa identificação: “Cabe aos professores a luta por melhores condições de ensino”.  Qual o sujeito? Vamos à pergunta: o que é que cabe aos professores? Resposta: “a luta por melhores condições de ensino”. Na ordem direta, a frase fica assim: “A luta por melhores condições de ensino cabe aos professores.”  
         Lembre-se de que o sujeito é o termo ao qual o verbo se refere e, por isso, deve (o verbo) concordar com ele (sujeito). Numa frase como “Deu trabalho as buscas pelos sobreviventes do naufrágio”, a flexão de “deu” no singular está errada – e você já é capaz de me dizer por quê. Deve ter feito a pergunta que indiquei acima: “o que é que deu trabalho?” As buscas, claro. Logo, “deram trabalho as buscas pelos sobreviventes no naufrágio”. Na ordem direta, o termo “as buscas” encabeça a frase.

domingo, 23 de junho de 2019

Sobre a impessoalidade (e a pessoalidade) do verbo "haver"


Professor como saber se o verbo haver tem o sentido de 'ocorrer” e “existir” que nesse caso ele é impessoal e quando ele não tem o sentido de 'ocorrer” e “existir” que ele não é impessoal.

Rodrigo Sampaio
****

       Alô, Rodrigo!

O contexto é que mostra em qual sentido esse verbo está usado e, consequentemente, se o seu emprego é pessoal ou não. As acepções em que há sujeito vinculam-se à ideia de “ter” (obter) ou “experimentar” (lembre-se  de que é possível substituir o verbo “ter” por “haver” nos chamados tempos compostos). Dois exemplos do emprego pessoal: “Ninguém houve notícias da prisão do traficante”; “Os meninos houveram muito medo de entrar na caverna”. São construções raras e praticamente abolidas do registro coloquial, em que há larga prevalência do verbo “ter”.
“Haver” também é pessoal quando vem acompanhado de pronome (parte integrante do verbo); nesse caso, tem os sentidos de “portar-se,” “prestar contas”, “lidar”. Confira os respectivos exemplos: “Joaquim se houve bem no encontro social”; “Por não respeitar o regimento, vai-se haver com o diretor”; “É ruim ter que se haver com pessoas  temperamentais”.
A impessoalidade (ausência de sujeito) se dá quando esse verbo tem o sentido de “existir”, “ocorrer”, ou indica tempo decorrido.  Exemplos: “Há pessoas que não merecem o nosso respeito”; “Não haverá torneios na próxima estação”; “Há dias que ele não visita os pais”. Escrevi no plural os objetos diretos (pessoas, torneios, dias) a fim de chamar a atenção para a invariabilidade da flexão dos verbos, que ficam no singular por um motivo  óbvio: se não há sujeito, eles não têm com quem (ou com o quê) concordar.

quinta-feira, 16 de maio de 2019

O motivo do acento de "veículo"


        Professor qual a razão do acento de veículo? Há bancas que justificam o acento por ser uma palavra proparoxítona. Outras dizem que o motivo é existir uma vogal tônica de hiato. Gostaria, se possível, de um esclarecimento. Obrigada.
Luísa Torres
****
          Como vai, Luísa?
         O acento de “veículo” não ocorre por nessa palavra haver um hiato. A função do acento na chamada vogal tônica dos hiatos é impedir que esses encontros vocálicos se transformem em ditongos.  Sem o acento, por exemplo, os vocábulos “sa-ú-de”, “ra-í-zes” e “mi-ú-do” têm a seguinte divisão silábica: “sau-de”. “rai-zes” e “miu-do”.  Ou seja, há ditongação das vogais. Essa possibilidade não existe em “veículo”. Caso se retire o acento, o hiato se mantém (ve-i-cu-lo), e a palavra passa a soar como um paroxítono. Assim, “veículo” se acentua unicamente por ser um vocábulo proparoxítono.