segunda-feira, 31 de agosto de 2015

Plurais com o prefixo "multi"

E-mail de Adauto Neto: “Professor, por que palavras formadas com o prefixo ‘multi-’, que já tem ideia de plural, necessitam de um S no final (multitarefas e não multitarefa)? Obrigado.”

                                                   ****
         Caro Adauto, o prefixo “multi” aparece na formação de vários adjetivos em português (multimodal, multidisciplinar, multicor etc.) Tais adjetivos se flexionam quando modificam os substantivos a que se referem (frequências multimodais, cursos multidisciplinares, planícies multicores etc.).
         O substantivo “multitarefa”, segundo o Houaiss, designa a “capacidade que possui um sistema operacional de computador de executar mais de um programa simultaneamente”. Como adjetivo, ele caracteriza sobretudo as pessoas capazes de realizar muitas tarefas ao mesmo tempo. Nesse caso, segue a tendência normal na língua de se adequar em número ao termo determinado (pessoas multitarefas).

domingo, 23 de agosto de 2015

Sobre o gerúndio com valor de adição

E-mail de Christianne Inglês de Sousa: “Professor, a respeito do seu artigo ‘Armadilhas do gerúndio’, publicado na revista Língua Portuguesa, tenho uma dúvida. Na frase ‘Pedro fechou o portão, ganhando a rua’, a oração gerundial tem o mesmo sujeito da anterior (Pedro) e equivale a uma oração aditiva (e ganhou a rua). É possível que uma oração com sujeito indeterminado pela partícula ‘se’ seja estruturada da mesma forma? Na construção ‘Precisa-se de empregados, considerando que a empresa está aumentando’, o sujeito de ‘considerando’ é o mesmo de ‘precisa-se’? Em caso afirmativo, é necessário o uso da partícula ‘se’ em ‘considerando’ (considerando-se)? Muito obrigada.”
                                         ****
Prezada Christianne, não basta o gerúndio vir depois para se caracterizar o valor aditivo. É preciso que a ação expressa na segunda oração seja posterior ao que está expresso na primeira. O enunciado que você me manda não equivale a “Precisa-se de empregado e se considera que a empresa está aumentando”. A sequência não é essa, pois logicamente primeiro ocorre o aumento da empresa, que leva à necessidade de mais empregados. A melhor ordem, parece-me, é começar com a oração do gerúndio (uma subordinada adverbial causal): “Considerando que a empresa está aumentando, precisa-se de empregados.”
     O sujeito não deixa de ser o mesmo, embora esse “considerando que” esteja um tanto gramaticalizado (Uma vez que a empresa está aumentando...).  Nessa ordem, nada impede que apareça o “se”, que pode no entanto ser descartado por motivo de eufonia (ele se repete na oração principal). Há outras possibilidades de redação, que deixam de lado esse protocolar “considerando que”: “Com o aumento da empresa, precisa-se de empregados” ou “Como a empresa está aumentando, precisa de empregados”

domingo, 2 de agosto de 2015

Sobre a conjugação composta

E-mail de Maria das Graças: “Professor, a conjugação composta é uma locução verbal ou simplesmente um excesso que pode ser simplificado? Encontrei essa num jornalzinho: ‘Ajustes finais nas obras da nova agência que deverá estar sendo entregue nos próximos dias.’ O destaque foi meu. Agradeço a atenção desde já.”
                                 ****
            Prezada Graça, os tempos compostos são formados com os auxiliares “ter” e “haver” mais o particípio do verbo principal; logo, não há incompatibilidade entre as locuções e esses tempos, que não são meros “excessos”. Eles indicam determinados matizes que não aparecem nos tempos simples (“tenho cantado”, por exemplo, é diferente de “cantei”).

          No exemplo que você dá existem dois auxiliares: um modal (dever) e outro formador de voz passiva (ser). A construção “estar sendo” não passa de um modismo decalcado do inglês e deve ser evitada. É melhor escrever: "Ajustes finais nas obras da nova agência, que deverá ser entregue nos próximos dias."