domingo, 23 de agosto de 2015

Sobre o gerúndio com valor de adição

E-mail de Christianne Inglês de Sousa: “Professor, a respeito do seu artigo ‘Armadilhas do gerúndio’, publicado na revista Língua Portuguesa, tenho uma dúvida. Na frase ‘Pedro fechou o portão, ganhando a rua’, a oração gerundial tem o mesmo sujeito da anterior (Pedro) e equivale a uma oração aditiva (e ganhou a rua). É possível que uma oração com sujeito indeterminado pela partícula ‘se’ seja estruturada da mesma forma? Na construção ‘Precisa-se de empregados, considerando que a empresa está aumentando’, o sujeito de ‘considerando’ é o mesmo de ‘precisa-se’? Em caso afirmativo, é necessário o uso da partícula ‘se’ em ‘considerando’ (considerando-se)? Muito obrigada.”
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Prezada Christianne, não basta o gerúndio vir depois para se caracterizar o valor aditivo. É preciso que a ação expressa na segunda oração seja posterior ao que está expresso na primeira. O enunciado que você me manda não equivale a “Precisa-se de empregado e se considera que a empresa está aumentando”. A sequência não é essa, pois logicamente primeiro ocorre o aumento da empresa, que leva à necessidade de mais empregados. A melhor ordem, parece-me, é começar com a oração do gerúndio (uma subordinada adverbial causal): “Considerando que a empresa está aumentando, precisa-se de empregados.”
     O sujeito não deixa de ser o mesmo, embora esse “considerando que” esteja um tanto gramaticalizado (Uma vez que a empresa está aumentando...).  Nessa ordem, nada impede que apareça o “se”, que pode no entanto ser descartado por motivo de eufonia (ele se repete na oração principal). Há outras possibilidades de redação, que deixam de lado esse protocolar “considerando que”: “Com o aumento da empresa, precisa-se de empregados” ou “Como a empresa está aumentando, precisa de empregados”

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