terça-feira, 31 de dezembro de 2019
quarta-feira, 21 de agosto de 2019
Sobre os verbos terminados em "guar", "quar", "guir" e "quir"
Bom dia, caro professor, já agradecendo sua
enorme disponibilidade para dirimir dúvidas sobre a língua portuguesa, estou
aqui com um impasse. Sabemos que há variação na pronúncia dos verbos terminados
em GUAR, QUAR e QUIR, como aguar, obliquar, delinquir. sabemos ainda que se
forem pronunciados com "A" ou "I" tônicos, essas formas
devem ser acentuadas, como em ENXÁGUO, DELÍNQUO. Mas se forem pronunciados com
"U" tônico, deixam de ser acentuados, como em "enxagUo",
"delinqUa". Pois bem, minha dúvida é a seguinte: No caso de se
pronunciar com "U" tônico, como são consideradas oxítonas, e
sabendo-se que o "A" sempre será vogal e que não existe mais de uma
vogal na mesma sílaba, como se resolve esse impasse, pois o "U" é
tônico? Nos dois casos elas são paroxítonas ou apenas quando são ecentuadas?
Raimundo Gomes
////
Alô, Raimundo!
As formas verbais a que
você se refere apresentam, de fato, mais de uma pronúncia e mais de uma grafia.
É importante ressaltar que isso ocorre apenas nas chamadas formas rizotônicas
do presente do indicativo e do subjuntivo (uma forma rizotônica é aquela em que
a sílaba tônica está contida no radical, ou seja, na parte do vocábulo que
contém o sentido).
Assim, pode-se pronunciar
(e escrever) “enxaguo” ou “enxáguo”, “delinquo” ou delínquo. Em “enxaguo” e “delinquo”,
o “u” é vogal tônica na penúltima sílaba (em-xa-gu-o, de-lin-qu-o); antes da Reforma
esse “u” recebia um acento agudo.
Já em “enxáguo” e “delínquo”,
o “u” aparece como semivogal de um ditongo crescente (en-xá-guo, de-lín-quo).
Nesse caso, para que se mantenha o ditongo e as vogais “u” e “o” não formem
hiato, marca-se com acento agudo a penúltima sílaba.
Não entendi bem sua
dúvida. Você afirma que, no caso de o “u” ser
tônico, o vocábulo passa a oxítono. Não é verdade; ele se mantém como um
paroxítono. Depois você sugere que a letra “a” (obviamente em “enxaguo”) faria parte
de um ditongo. O “a” nada tem a ver com o grupamento vocálico final, que como
se viu constitui um hiato.
Não sei se deu para
esclarecer. Caso suas dúvidas persistam, não hesite em escrever novamente.
quinta-feira, 4 de julho de 2019
A posição do sujeito na ordem direta
Professores como colocar a oração na ordem
direta sem saber o sujeito?ou tipo quando agora oração é muito longa qual forma
eficaz de achar o sujeito.
Michael Alves
****
Alô, Michael!
E impossível colocar uma oração na ordem direta sem conhecer o
sujeito. O motivo é simples: a ordem
direta é aquela em que o sujeito encabeça o enunciado oracional. Consiste,
grosso modo, em você enfileirar os termos na sequência “sujeito + verbo + mais
complemento (objeto) + mais adjunto adverbial”.
Isso leva à segunda parte da sua questão: como identificar o sujeito. Uma
dica é fazer as perguntas “quem é que” ou o “que é que”. Vou dar um exemplo com
um tipo de frase em que geralmente há dificuldade de proceder a essa identificação:
“Cabe aos professores a luta por melhores condições de ensino”. Qual o sujeito? Vamos à pergunta: o que é que
cabe aos professores? Resposta: “a luta por melhores condições de ensino”. Na
ordem direta, a frase fica assim: “A luta por melhores condições de ensino cabe
aos professores.”
Lembre-se de que o sujeito é o termo ao qual o verbo se refere e, por
isso, deve (o verbo) concordar com ele (sujeito). Numa frase como “Deu trabalho
as buscas pelos sobreviventes do naufrágio”, a flexão de “deu” no singular está
errada – e você já é capaz de me dizer por quê. Deve ter feito a pergunta que
indiquei acima: “o que é que deu trabalho?” As buscas, claro. Logo, “deram
trabalho as buscas pelos sobreviventes no naufrágio”. Na ordem direta, o termo “as
buscas” encabeça a frase.
domingo, 23 de junho de 2019
Sobre a impessoalidade (e a pessoalidade) do verbo "haver"
Professor como saber se o verbo haver tem o
sentido de 'ocorrer” e “existir” que nesse caso ele é impessoal e quando ele
não tem o sentido de 'ocorrer” e “existir” que ele não é impessoal.
Rodrigo Sampaio
****
Alô, Rodrigo!
O contexto é que mostra em qual sentido
esse verbo está usado e, consequentemente, se o seu emprego é pessoal ou não. As
acepções em que há sujeito vinculam-se à ideia de “ter” (obter) ou “experimentar”
(lembre-se de que é possível substituir o
verbo “ter” por “haver” nos chamados tempos compostos). Dois exemplos do
emprego pessoal: “Ninguém houve notícias da prisão do traficante”; “Os meninos
houveram muito medo de entrar na caverna”. São construções raras e praticamente
abolidas do registro coloquial, em que há larga prevalência do verbo “ter”.
“Haver” também é pessoal quando vem acompanhado
de pronome (parte integrante do verbo); nesse caso, tem os sentidos de “portar-se,”
“prestar contas”, “lidar”. Confira os respectivos exemplos: “Joaquim se houve
bem no encontro social”; “Por não respeitar o regimento, vai-se haver com o
diretor”; “É ruim ter que se haver com pessoas
temperamentais”.
A impessoalidade (ausência de sujeito) se
dá quando esse verbo tem o sentido de “existir”, “ocorrer”, ou indica tempo
decorrido. Exemplos: “Há pessoas que não
merecem o nosso respeito”; “Não haverá torneios na próxima estação”; “Há dias que
ele não visita os pais”. Escrevi no plural os objetos diretos (pessoas,
torneios, dias) a fim de chamar a atenção para a invariabilidade da flexão dos
verbos, que ficam no singular por um motivo
óbvio: se não há sujeito, eles não têm com quem (ou com o quê) concordar.
quinta-feira, 16 de maio de 2019
O motivo do acento de "veículo"
Professor qual a razão do
acento de veículo? Há bancas que justificam o acento por ser uma palavra
proparoxítona. Outras dizem que o motivo é existir uma vogal tônica de hiato.
Gostaria, se possível, de um esclarecimento. Obrigada.
Luísa Torres
****
Como vai, Luísa?
O acento de “veículo”
não ocorre por nessa palavra haver um hiato. A função do acento na chamada vogal
tônica dos hiatos é impedir que esses encontros vocálicos se transformem em ditongos. Sem o acento, por exemplo, os vocábulos “sa-ú-de”,
“ra-í-zes” e “mi-ú-do” têm a seguinte divisão silábica: “sau-de”. “rai-zes” e “miu-do”.
Ou seja, há ditongação das vogais. Essa
possibilidade não existe em “veículo”. Caso se retire o acento, o hiato se
mantém (ve-i-cu-lo), e a palavra passa a soar como um paroxítono. Assim, “veículo”
se acentua unicamente por ser um vocábulo proparoxítono.
sexta-feira, 26 de abril de 2019
Dúvida sobre generalização a partir de uma questão da Vunesp
2019 VUNESPUma expressão que atribui à frase um tom de
generalização está destacada entre parentes em: A Há que se dizer que culpar
terceiros (sempre) nos traz alívio. (1º parágrafo) B (Um dos )maiores
responsáveis por alagamentos nas cidades é o lixo... (2º parágrafo) C Nos dias
de hoje coletamos informações (prontas)... (3º parágrafo) D ... cotidiano
agitado e( quase) atropelado pelo que não nos afeta... (3º parágrafo) E ...
quase atropelado pelo que não nos afeta tanto (por enquanto). (3º parágrafo)
Laura Silva
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Bem-vinda, Laura.
Generalizar é considerar que
determinadas características ou ações se aplicam a todo um conjunto de pessoas.
Pode constituir uma grave falha na argumentação, pois não leva em conta as
possíveis exceções. Basta que uma delas ocorra para fazer o argumento ir por
terra.
Generalizar é também tratar
subentendidos como pressupostos. Um exemplo: numa redação sobre o trabalho da
mulher fora de casa, um de meus alunos se posicionou contra, alegando que esse
tipo de atividade prejudica a educação dos filhos. Ele pressupôs como
verdadeiro algo que subentendeu (apoiado numa visão machista, por exemplo), como
se todo subtendido não dependesse de uma interpretação pessoal. Essa era a opinião
dele, que não tinha o direito de generalizar.
Já deu para você perceber que a
resposta à questão está na letra “A”. O advérbio “sempre” dá como genérica e
inevitável a afirmação de que pôr a culpa em terceiros nos traz alívio. Pode às
vezes não trazer... A propósito, será que traz mesmo? A banca dá uma mãozinha quando
apresenta na resposta uma formulação que é por si questionável do ponto de
vista ético e existencial. Culpar terceiros não deixa de ser uma maneira de transferir
aos outros as nossas responsabilidades.
Sobre o tipo de letra na redação
Olá, boa tarde! Gostaria de tirar uma dúvida
Minha dúvida é em relação à escrita na redação. Tipo, minha letra é
misturada, eu utilizo tanto letras de computação como letras cursivas. Isso é proibido
em redação? Existe uma norma que proíbe isso? (não sei se o nome que se dá a
essas letras são essas que citei).
Michel Filipe
****
Alô, Michel.
A dúvida comum dos estudantes quanto à letra com que devem fazer a
redação é se utilizam o cursivo ou a caixa-alta. A letra cursiva, como o nome
diz, é a letra que corre. Com ela se produz a maior parte dos textos
manuscritos. A caixa-alta corresponde à escrita
com letras maiúsculas. As bancas aceitam os dois tipos; o importante é que o
texto seja legível. Há pessoas que, ao escrever em cursivo, produzem garranchos
que ninguém consegue entender (às vezes, nem elas próprias). Nesse caso, o
melhor é usar a caixa-alta. Recomenda-se, no entanto, que o aluno sublinhe as
letras que iniciam os períodos e as dos nomes próprios; afinal há normas para a
escrita das maiúsculas, e o estudante deve mostrar que as conhece.
Chegamos à
sua pergunta, que se refere a uma possibilidade nova: alternar letras cursivas com
letras de computação. O Enem não emitiu nenhuma norma que impeça esse tipo de
alternância (assim como, a exemplo dos outros concursos, não se manifesta
quanto a o aluno usar a letra cursiva ou a de caixa-alta). Deduz-se que nesse
exame os corretores aceitam os diferentes tipos de letra. O importante,
repita-se, é que o candidato se faça entender. A banca não pode ver com bons
olhos os que tornam mais penoso o extenuante trabalho que já tem, e a má
vontade decorrente disso certamente influirá no julgamento que fizer deles. O
candidato deve escrever com legibilidade para garantir que o seu texto será
lido e avaliado com justiça.
Diferença entre homonímia e polissemia
Na
frase "A pata estava com sua pata esquerda machucada" existe
homonímia ou polissemia? Poderia me esclarecer melhor com conceitos e exemplos?
Muito obrigado!
Raimundo Gomes
****
Alô, Raimundo.
A polissemia consiste na variedade de significações de uma palavra. Entre
os inúmeros sentidos de “coroa”, por exemplo, estão o de 1) objeto que os reis
portavam (ou portam) na cabeça para indicar soberania e nobreza; 2) parte do
dente revestida de esmalte; 3) mulher de idade avançada.
A homonímia é a coincidência de forma entre palavras devido, em grande
parte, a mudanças fonéticas. Como têm origens distintas, os homônimos pertencem
na grande maioria das vezes a classes gramaticais diferentes. Por exemplo: “venda”,
substantivo que designa a faixa de pano com que se cobrem os olhos, é homônimo
de “venda”, 1ª ou 3ª pessoa do verbo “vender”.
São também homônimos “pata”, feminino de pato, e “pata”, “cada um dos
apêndices do animal usado para sustentação e locomoção” (Houaiss). A origem de “pato” é presumivelmente onomatopaica,
ou seja, deveu-se à tentativa de imitar determinado som – no caso, o grasnar
dessa ave (o povo parece que gosta de fazer onomatopeias com as consoantes “p”
e “t”; veja o caso de “patati” - “patatá”). O curioso é que o homônimo desse
vocábulo que representa o aparelho locomotor também tem origem onomatopaica;
nasceu do propósito de imitar “o ruído do animal em marcha”.
Dúvida sobre ambiguidade
"A mãe bateu na filha porque estava BÊBADA.” Quem estava
bêbada? Esse é um caso de ambiguidade?
Hégina Lima
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Alô, Hégina.
Nessa frase ocorre elipse do sujeito da segunda oração. A elipse, sendo a omissão de um termo facilmente subentendido, promove em alguns casos a coesão textual sem que se precise fazer referência ao elemento mencionado.
Nessa frase ocorre elipse do sujeito da segunda oração. A elipse, sendo a omissão de um termo facilmente subentendido, promove em alguns casos a coesão textual sem que se precise fazer referência ao elemento mencionado.
Se digo, por exemplo, “Maria acabou o
namoro com João porque era intolerante”, não há como interpretar que o
intolerante era João. Caso eu pretendesse dizer isso, marcaria o novo referente
(com um pronome, por exemplo): “Maria acabou o namoro João porque ele era
intolerante.” Na sua frase “a mãe” figura, por elipse, como sujeito do verbo
“estar” – e nesse caso não haveria ambiguidade.
Há no entanto quem veja diferente e
ache que, justamente por constituir uma “lacuna”, a elipse dá margem a mais de
uma interpretação. O contexto e o sentido da frase têm influência nisso. O senso
comum, bem como a situação descrita, nos faz pensar que a filha e não a mãe é
quem tinha “enchido a cara”.
Diante disso, o melhor é marcar o
sujeito da oração seguinte. Com o pronome “ela”, por exemplo: “A mãe bateu na
filha porque ela estava bêbada.” Mas veja que, diferentemente da frase anterior
(sobre “Maria” e “João”, que é masculino), o pronome “ela” pode instaurar ambiguidade
(“ela” quem?). Como nunca é demais ser claro, o melhor então seria retomar “a
filha” por meio de um hiperônimo: “A mãe bateu na filha porque a garota estava
bêbada”. Abraço.
quarta-feira, 24 de abril de 2019
Botando o pingo no "i"
Gostaria, se
possível, de um esclarecimento: omitir da letra “i” o pingo consistiria em
transgressão gramatical? Em outras palavras, provas oficiais podem penalizar
nesse caso?
Grato, Daniel W.
(Limeira/SP)
****
Alô, Daniel.
O chamado pingo do “i” é uma convenção que acompanha essa letra. Como toda convenção, deve ser respeitada. Omiti-lo seria praticar um desvio ortográfico. Seria como retirar a cedilha do “c”.
O chamado pingo do “i” é uma convenção que acompanha essa letra. Como toda convenção, deve ser respeitada. Omiti-lo seria praticar um desvio ortográfico. Seria como retirar a cedilha do “c”.
A cedilha, como se sabe, aparece embaixo
da letra “c” para diferenciar a consoante sibilante (ca/ç/a) da gutural (bo/c/a);
há uma razão prática para colocá-la. Há também uma razão prática para colocar o
pingo sobre o “i”: distingui-lo, quando duplicado, da letra “u” (essa
duplicação era muito comum no latim).
O
curioso é que o Acordo Ortográfico fez com que o risco de haver confusão deixasse
em parte de existir. Geralmente a duplicação ocorre quando se liga um prefixo
terminado por ‘i” a um radical iniciado por essa letra. O Acordo estabelece que,
nesses casos, se desfaça a junção por
meio do hífen. Diante disso não há mais como confundir, por exemplo, “anti-inflamatório”
com “antunflamatório. Abraço.
Uso do hífen na translineação (mudança de linha)
Professor, se estou fazendo uma redação... e termina a linha
estou escrevendo uma palavra com hífen... na outra linha vou terminar de
colocar essa palavra devo começar de novo com mais um hífen???
Leny Fontinelle
****
Alô, Leny.
Deve pôr o hífen, sim. O objetivo dessa repetição é preservar a ortografia. A razão é simples. Na chamada translineação (o nome técnico para a divisão silábica), usa-se já um hífen para introduzir o segundo “pedaço” da palavra. Por exemplo: se separo “obscuro” a partir da primeira sílaba, na linha seguinte o restante desse vocábulo deve ser antecedido de um hífen (-curo).
Deve pôr o hífen, sim. O objetivo dessa repetição é preservar a ortografia. A razão é simples. Na chamada translineação (o nome técnico para a divisão silábica), usa-se já um hífen para introduzir o segundo “pedaço” da palavra. Por exemplo: se separo “obscuro” a partir da primeira sílaba, na linha seguinte o restante desse vocábulo deve ser antecedido de um hífen (-curo).
Suponha agora que você vá separar os
componentes de “dedo-duro”. Trata-se de um composto, por isso os dois radicais
que o formam são ligados por hífen (lembro que não ocorreria hífen se houvesse
um elemento de ligação entre os dois radicais, como em “pé de moleque”). No fim
da linha, então, você escreve “dedo-”. Mas esse hifenzinho que está aí não caracteriza
o composto. Indica apenas que a escrita da palavra se prolonga na linha
seguinte. Se no início dessa linha você não
repetir o hífen, dará a entender que a grafia da palavra é “dedoduro” (que não
existe).
Lembre-se de que a repetição do hífen
também ocorre quando formas verbais são seguidas por pronomes oblíquos átonos
(na chamada ênclise). Caso você separe o verbo do pronome numa forma verbal
como “deu-me”, terá que usar hífen tanto após o verbo, quanto antes do pronome
na linha seguinte (deu- -me).
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