sexta-feira, 26 de abril de 2019

Dúvida sobre ambiguidade


         "A mãe bateu na filha porque estava BÊBADA.” Quem estava bêbada? Esse é um caso de ambiguidade?
Hégina Lima
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         Alô, Hégina.

        Nessa frase ocorre elipse do sujeito da segunda oração. A elipse, sendo a omissão de um termo facilmente subentendido, promove em alguns casos a coesão textual sem que se precise fazer referência ao elemento mencionado.
       Se digo, por exemplo, “Maria acabou o namoro com João porque era intolerante”, não há como interpretar que o intolerante era João. Caso eu pretendesse dizer isso, marcaria o novo referente (com um pronome, por exemplo): “Maria acabou o namoro João porque ele era intolerante.” Na sua frase “a mãe” figura, por elipse, como sujeito do verbo “estar” – e nesse caso não haveria ambiguidade.
        Há no entanto quem veja diferente e ache que, justamente por constituir uma “lacuna”, a elipse dá margem a mais de uma interpretação. O contexto e o sentido da frase têm influência nisso. O senso comum, bem como a situação descrita, nos faz pensar que a filha e não a mãe é quem tinha “enchido a cara”.
        Diante disso, o melhor é marcar o sujeito da oração seguinte. Com o pronome “ela”, por exemplo: “A mãe bateu na filha porque ela estava bêbada.” Mas veja que, diferentemente da frase anterior (sobre “Maria” e “João”, que é masculino), o pronome “ela” pode instaurar ambiguidade (“ela” quem?). Como nunca é demais ser claro, o melhor então seria retomar “a filha” por meio de um hiperônimo: “A mãe bateu na filha porque a garota estava bêbada”. Abraço.

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