E-mail de Christianne Inglês
de Sousa: “Professor, a respeito do seu artigo ‘Armadilhas do gerúndio’,
publicado na revista Língua Portuguesa,
tenho uma dúvida. Na frase ‘Pedro fechou o portão, ganhando a rua’, a oração
gerundial tem o mesmo sujeito da anterior (Pedro) e equivale a uma oração
aditiva (e ganhou a rua). É possível que uma oração com sujeito indeterminado
pela partícula ‘se’ seja estruturada da mesma forma? Na construção ‘Precisa-se
de empregados, considerando que a empresa está aumentando’, o sujeito de ‘considerando’
é o mesmo de ‘precisa-se’? Em caso afirmativo, é necessário o uso da partícula
‘se’ em ‘considerando’ (considerando-se)? Muito obrigada.”
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Prezada Christianne,
não basta o gerúndio vir depois para se caracterizar o valor aditivo. É preciso
que a ação expressa na segunda oração seja posterior ao que está expresso na
primeira. O enunciado que você me manda não equivale a “Precisa-se de empregado
e se considera que a empresa está
aumentando”. A sequência não é essa, pois logicamente primeiro ocorre o aumento
da empresa, que leva à necessidade de mais empregados. A melhor ordem,
parece-me, é começar com a oração do gerúndio (uma subordinada adverbial
causal): “Considerando que a empresa está aumentando, precisa-se de
empregados.”
O sujeito não deixa de ser o mesmo, embora esse “considerando que”
esteja um tanto gramaticalizado (Uma vez
que a empresa está aumentando...).
Nessa ordem, nada impede que apareça o “se”, que pode no entanto ser
descartado por motivo de eufonia (ele se repete na oração principal). Há outras
possibilidades de redação, que deixam de lado esse protocolar “considerando que”:
“Com o aumento da empresa, precisa-se de empregados” ou “Como a empresa está
aumentando, precisa de empregados”
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