Do
amigo, professor e escritor João Batista B. de Brito recebi o texto abaixo, a
que respondo em seguida:
Oi, Chico, bom dia.
Vez ou outra me ocorrem questões de gramática que me
incomodam, e então, fico com vontade de partilhar com você, que é o nosso
guardião competente e incansável da língua culta.
Uma delas é a seguinte. De uns tempos pra cá, venho
notando como as pessoas andam engolindo as preposições em certa construção
frasal, isto de uma forma quase sistemática.
Veja bem. Todo mundo diz, por exemplo, “gosto do
filme”, mas, ao mudar a construção usando o relativo “que”, fica assim: “o
filme que gosto”. Idem para: “O caso que me referi”, “A pessoa que falei”, etc,
etc, etc... E esse uso não vem ocorrendo só entre pessoas simples, mas entre
gente chique (até locutores e repórteres já ouvi falando assim). E o fato
ocorre tanto em nível oral, como na escrita, principalmente na escrita
eletrônica.
Na verdade, o desaparecimento da preposição nesse tipo
de estrutura sintática é tão genérico que fico me indagando se não seria o caso
de se pensar em “normalizar” esse uso, talvez – quem sabe? – aceitando-o na
língua culta como alternativo.
Gostaria de ter uma opinião sua sobre a questão. Se
pudesse ser na sua página do Facebook, melhor ainda, pois o problema pode
interessar a outras pessoas, inclusive a seus alunos. Abraço grande de seu
amigo e admirador.
****
Alô, João! Grato pelo “guardião competente e
incansável da língua culta”. Digamos que me esforço para fazer a garotada
seguir a língua-padrão rsrs.
Por sinal, as construções que você aponta constituem
um tipo de infração a ela. A cartilha do Enem, por exemplo, é clara quanto a
isso; os pronomes relativos devem, se for o caso, vir antecedidos das
preposições que marcam a regência verbal.
Não posso dizer, por exemplo, “Os livros que gosto são
os de aventura”, pois o verbo “gostar” é transitivo indireto.
Mas o fato é que, por desconhecimento da regência ou
pela lei do menor esforço, tem havido muito desrespeito a essa recomendação —
inclusive no nível culto.
Possivelmente com o tempo (já que língua é uso), a
preposição deixará de aparecer. Enquanto isso não ocorre, ela deve constar caso
se exija o emprego do registro formal.
No discurso coloquial, informal, a liberdade é maior.
Não é raro em textos publicitários, que tendem a privilegiar o tom coloquial, a
gente ler frases como: “A solução que você precisa”. Convenhamos em que ela soa
melhor e tem mais apelo do que o claudicante “de que você precisa”.
Grande abraço! A admiração é recíproca.